Saudade da saudade.

Coisa boa é poder ter contato com familiares e amigos distantes, todos os dias através da internet.
Mas coisa triste é perceber que isso tem nos bastado.
Têm sido suficientes as palavras, os "emojis", as mensagens de voz, essa intimidade toda que não intima presença.
Já não têm feito falta as visitas inesperadas, aquele chamar de voz alta no portão, ou o soar da campainha.
Não sentimos mais falta da conversa de olhos nos olhos, da fala acompanhada de todas as suas características, como tom, volume, velocidade, por exemplo, e de coisas mais sutis como um meio sorriso, uma piscada de olhos, um balançar de cabeça, um levantar de sobrancelhas.
O aperto de mãos, o encostar de bochechas, os abraços não nos têm feito falta.
A internet com todas as suas alternativas nos proporcionou que estivéssemos sempre perto uns dos outros, mas na maior distância de todas.
Ela nos traz a sensação de presença na, cada vez maior, infalível ausência.
Temos mais tempo para nossas vidas e nos satisfazemos em saber que as outras permanecem vivas.
Perdemos o fôlego por saber que ficaremos dias sem contato virtual, mas vivemos a plenos pulmões com anos sem o toque.
Eu percebi que a saudade tomou outra conotação, para nós, em tempos pós-modernos, percebi que eu tenho saudade da saudade.
Ainda bem que ainda podemos fazer visitas, que podemos trocar olhares, doar sorrisos largos e nos entrelaçarmos em abraços apertados.
De novo, tenho saudade da saudade... Que essa saudade passe e a outra também.

Compartilhe:

0 comentários