O poeta preguiçoso

A inquietação por ter que escrever, mas não saber o quê, levou um poeta amador, por muitas vezes, à produção de textos repletos de palavras e ideias, porém vazios de sentido
"Ter que escrever" é uma auto-condição que o mesmo se impôs, fruto da vontade de se expôr, juntamente do desejo de reconhecimento: era um refém do seu ego e de suas ansiedades
Queria que todos que lessem seus escritos identificassem neles um talento raro, algo destacado, diferente de tudo que se havia visto até então
Estava mais preocupado com a forma como iria apresentar o assunto, do que com o assunto, propriamente dito
Ansiava que, ao publicá-los, despertassem em alguém o interesse em conhecê-lo intimamente, e se relacionar com ele, até que se tornasse "O" alguém, aquele em quem se pensar ao dormir e assim que acordar
Conseguiu!
Amigos, familiares, conhecidos e desconhecidos, pessoas próximas e distantes elogiavam o que chamavam por "dom de escrever"
Suas poesias foram tidas como "diferentes", "simples, mas profundas", "muito belas" e frases como: "parabéns, escreva mais", "você escreve muito bem" eram constantes
Não conseguiu!
Embora tivesse a admiração de muitos pela suposta qualidade de suas produções, não chegou ao conhecimento do "alguém" sonhado: um desastre!
O poeta preguiçoso, já preguiçoso antes de ser poeta, deixou de lado a sua hipotética arte
Mas um dia deixou de olhar só para si mesmo e começou a olhar para Jesus e para os outros
Percebeu que poderia fazer melhor uso de sua dita habilidade, que ela deveria ser algo que fosse utilizado para compartilhar do que cria, acreditava, vivia e lutava para viver
Entendeu que, se era que escrevia bem, era um presente de Deus, não vinha de si e que, sendo assim, a glória pertencia a Ele... somente a Ele
Aprendeu que "quando cuidamos das coisas de Deus, Ele cuida das nossas" e escolheu esperar nEle o tempo certo de encontrar o seu alguém
Escreveu mais, recebeu elogios novamente, mas isso já não era mais o objetivo
Agora, o importante era que tudo que fosse lido causasse reflexão e transformação, mesmo que de uma pessoa só
O poeta continuou preguiçoso, ainda que com tão nobre missão em sua mente e coração
Mas hoje decidiu retornar, com essa confissão, a ser um instrumento do seu Criador
Eis o ponto de partida de sua volta à escrita
Poeto preguiçoso: eu sou!
Confesso
Vencer, pela fé, a preguiça: eu vou!
Em processo.

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